- Início
- Conhecer
- Concelho
- Território
- Espaço Geográfico e Natural
Espaço Geográfico e Natural
Lagoa, território barlaventino, é um dos dezasseis concelhos do distrito de Faro. Confronta com Portimão, a oeste; com Silves, a norte e a leste; e com o oceano atlântico, a sul, abrangendo sobretudo a zona litoral, numa extensão aproximada de 17km e uma pequena parcela do barrocal.
O concelho tem 88,25 km2 de área e cerca de 23 000 habitantes e está dividido em quatro freguesias: União das freguesias de Lagoa e Carvoeiro, União das freguesias de Estômbar e Parchal, Porches e Ferragudo, com a sede administrativa na cidade de Lagoa, elevada a essa categoria a 19 de abril de 2001.
Na topografia, embora não existam grandes oscilações no relevo, são de assinalar três zonas: a primeira, definida por uma linha que passa aproximadamente no limite Norte do concelho e chega à altitude de 103m no lugar do Sobral; a intermédia, marcada por uma linha de Corgos ao Vale da Neve, com altitude máxima de 94m; a última, coincidente com a extremidade sul do concelho, que atravessa os promontórios destacados da Ponta do Altar, Cabo Carvoeiro e Nossa Senhora da Rocha, de relevo pouco acentuado, até aos 40m.
As potencialidades dos recursos naturais marinhos e rurais são a razão da vocação económica de um concelho que assentou, durante séculos, na pesca, na extração de sal, na agricultura de sequeiro e na produção de vinho. Esta realidade produtiva, com exceção da exploração vinícola, foi sendo gradualmente substituída a partir de meados do século XX pelo turismo balnear e hoteleiro, pelo comércio e pela pequena indústria. Desde então, tem sido o turismo o impulsionador da economia local, ditando as dinâmicas do tecido produtivo que se refletem nas vivências e no mercado de emprego.
Duas Paisagens culturais
Margem esquerda do Arade
O Arade é o segundo rio mais importante da costa sul do Algarve, a seguir ao Guadiana. Constituiu-se, desde sempre, como uma das principais vias de circulação de acesso ao interior na metade meridional da região, uma verdadeira espinha dorsal do desenvolvimento económico e atividade dos povos que ocuparam as suas margens. De um lado e do outro cresceram núcleos urbanos como Portimão, Silves, Parchal, Mexilhoeira da Carregação, Ferragudo e formaram-se três concelhos.
Estas áreas urbanas, hoje bastante extensas, contrastam com um estuário de elevado valor ambiental e cénico, com zonas de sapal, salinas e campos agrícolas.
Nos séculos XV-XVI o rio Arade era, seguramente, a principal via de escoamento da produção agrícola de uma grande área que se estendia de Lagoa a Albufeira, já que não existiam outros portos com idênticas condições. Do porto fluvial da Mexilhoeira da Carregação ou do Cais do Calhau, referido pelo Pe. Luiz Cardoso em 1758 no Diccionario Geographico do Reino de Portugal como “(…) hum porto com praça, que lhe chamão o Calháo, junto do rio de Vila Nova (…)” (Cardoso, 1758 p. 662) e que possuía excelentes condições de aportamento, nomeadamente a profundidade necessária ao calado das embarcações, especialmente na maré baixa, saíam frutos secos e outros bens de consumo para o resto do país e para o estrangeiro. Seria, portanto, grande a azáfama que caracterizava este polo económico agrícola e marítimo, pelo menos desde 1495.
No concelho de Lagoa, na margem esquerda do rio, entre a sua foz, em Ferragudo, e o concelho de Silves, há indícios de cerca de uma vintena de moinhos de maré. Um destes moinhos foi recuperado em 1993 (Moinho Novo), quando pouco mais dele restava que as paredes. Esta estrutura está integrada no Parque Municipal do Sítio das Fontes como um dos seus principais valores histórico-culturais, constituindo hoje uma referência ao nível da recuperação e restauro deste tipo de estruturas. No seu interior é possível ver dois casais de mós, ou aferidos, completamente funcionais, bem como uma coleção de alfaias utilizadas no processo de moagem e pesagem dos cereais.
O moinho funcionou até aos anos sessenta do século passado, altura em que “Bia Moleira”, mulher do último moleiro do sítio, aguardava pelos fregueses que traziam cereal para ser moído. A existência de moinhos de maré no Arade é, porém, muito mais remota, encontrando-se documentada, por exemplo, no livro do Almoxarifado de Silves (séc. XV) a “(…) açenha das fontes em que fez Vicente Pirez húu moynho (…)”. Não é possível confirmar se se trata de um dos dois monhos do sítio, o Novo ou o Velho (que dista cerca de 270m em linha reta e em zona mais interior do esteiro), não obstante, basta a existência e antiguidade destas estruturas para comprovar a importância da margem esquerda do Arade como uma das paisagens culturais que se destacam no território de Lagoa. Embora os moinhos sobreviventes sejam um pálido testemunho de um espaço ribeirinho pleno de atividade, restam várias ruínas que revelam estruturas mais ou menos complexas e de diferentes escalas com mais ou menos aferidos.
Caracteriza alguns moinhos do Arade, a particularidade de a caldeira do moinho poder ser cheia com a água das nascentes localizadas a montante, ao invés da água trazida pelas marés como é mais comum. Contudo, os moinhos estavam dependentes da baixa-mar para poderem funcionar, já que era nesse período que o rodízio ficava emerso e a diferença de nível da água armazenada na caldeira com o nível da água do rio servia para produzir a força motriz necessária.
A intervenção humana no Sítio das Fontes traduz uma marcada preocupação em manter e valorizar os patrimónios em presença, de forma a proporcionar ao público um espaço de lazer e cultura para o conhecimento da paisagem e valores histórico-culturais que marcam a identidade algarvia da região.
A paisagem ribeirinha do Arade foi, e ainda é, marcada pelas salinas. Os registos mais antigos apontam para o século XVI e evocam um grande armazém para depósito do sal extraído das marinhas. Seria destes talhões que as fábricas conserveiras de um lado e do outro do rio obtinham o sal, indispensável para as suas conservas.
A fábrica Fialho, em Ferragudo, hoje em ruínas, é uma das últimas evidências de uma indústria que teve grande expressão nos finais do século XIX e inícios do XX e que permitiu à família Júdice Fialho fazer grandes negócios e construir residências como o Solar dos Júdices, onde moraram os descendentes de Paulo André Giudice, o primeiro do clã a chegar a Portugal proveniente de Génova.
Orla costeira
Os aglomerados populacionais ligados à pesca no concelho de Lagoa desenvolveram-se entre Ferragudo, na foz do Arade, e a praia da Senhora da Rocha, em Porches. Ao longo da faixa costeira, outras comunidades piscatórias como Carvoeiro e Benagil foram prosperando.
Talvez Ferragudo seja a povoação costeira mais carismática, cuja fundação remonta aos inícios do século XVI por ordenança da rainha D. Leonor. Porém, muitos destes núcleos, poderão remontar a épocas mais recuadas e à presença fenícia e romana, como atesta a descoberta de vários conjuntos de cetárias entre as praias da Angrinha e Armação de Pêra, já no vizinho concelho de Silves.
Apesar de a atividade turística ter enorme impacto na ocupação da faixa costeira alterando profundamente os núcleos urbanos tradicionais, em Carvoeiro ainda é possível perceber o traçado da povoação original.
Na orla costeira de Porches, marcam a paisagem, a ermida de Nossa Senhora da Rocha e os vestígios da antiga fortaleza do promontório, parte integrante de um sistema de vigilância da costa de que faziam parte a Fortaleza de Nossa Senhora da Encarnação (Carvoeiro) e a Torre da Lapa, já perto de Ferragudo.
Não é por acaso que a praia de Nossa Senhora da Rocha constituiu e constitui porto de abrigo das gentes do mar. Situada entre dois promontórios, o areal está protegido contra grande parte das intempéries que, desde sempre, ameaçam a vida dos pescadores. Quando o abrigo da pequena baía não era suficiente, a fé era o outro porto dos navegantes que, seguindo um impulso místico ancestral, ergueram no promontório sagrado a pequena ermida dedicada à Virgem. Quem por ali passa não fica indiferente ao indolente promontório e à sua ermida, de onde se avistam as duas baías, a da praia Nova e a da praia da Senhora Rocha com o seu núcleo de pesca tradicional a conviver com a intensa atividade balnear. Com alguma sorte é possível vislumbrar grupos de golfinhos ao largo.
A importância dos recursos marinhos para a economia e subsistência das populações ribeirinhas reflete-se nos exemplos de expressão artístico-religiosa existentes na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Ferragudo. Destacam-se no templo os ex-votos de mareantes e pescadores com evocações às suas promessas à padroeira e os milagres por ela realizados, testemunhos eloquentes de arte popular encomendada dos séculos XVIII e XIX.