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Manuel Gamboa
MANUEL Rosário GAMBOA das Neves, mais conhecido como Manuel Gamboa, foi um artista versátil e autodidata, nascido em Lagoa a 24 de maio de 1925 e falecido em Carvoeiro a 13 de fevereiro de 2020. Conhecido pelo seu profundo carácter humanista, Gamboa notabilizou-se a partir de meados do século XX, e as suas obras de arte, abrangendo principalmente pintura, desenho e escultura, integram importantes coleções em diversas partes do mundo.
O Município de Lagoa possui um acervo significativo de obras de arte de autores nacionais e estrangeiros, incluindo uma notável coleção de pinturas de Manuel Gamboa. Estas obras estão sob a guarda do serviço de Património Cultural.
Para homenagear a vida e obra deste ilustre artista, está a ser criado o ESPAÇO GAMBOA. Este equipamento museológico será instalado no Centro Cultural Convento de São José e encontra-se na fase de implementação, com os projetos de arquitetura e museografia já concluídos. Este espaço proporcionará uma oportunidade única para conhecer de perto as criações de Gamboa e o seu contributo para a arte.
PERCURSO ARTÍSTICO
Tinha decorrido o primeiro quarto do século XX quando, a 24 de maio de 1925, em Lagoa, nasceu Manuel Gamboa. A sua juventude foi atribulada, em boa parte devido a questões familiares e à pobreza generalizada que o ALGARVE então conhecia. Ainda menino, foi viver para Lisboa com o pai adotivo, onde permaneceu até 1944. Então, com 19 anos, lançou-se com amigos numa aventura insólita: num pequeno barco que conseguiram, rumaram às praias de MARROCOS, onde viveu cerca de um ano, já desenvolvendo trabalho artístico, especialmente em cerâmica.
De volta a Portugal, no início da década de 1950, fixou-se em LISBOA e deu verdadeiro início à sua carreira artística, conseguindo vender peças de pintura. Frequentando a capital, integrou-se no meio artístico e travou amizade com vários artistas da época, como Artur Bual, Francisco Relógio, Rui Filipe, Manuel Cargaleiro, Figueiredo Sobral, Mário Silva, Hilário Teixeira Lopes e os irmãos José e Francisco Bronze. Teve ainda contacto com Abel Manta, Jorge Barradas e Almada Negreiros.
Desde esse período, Gamboa revelou-se um artista multifacetado, produzindo em várias áreas. A pintura, o desenho (por vezes de caricatura) e a escultura, bem como o linóleo e a serigrafia, foram as suas linguagens mais comuns, mas a cerâmica e a tapeçaria também estavam presentes na sua obra. Ocasionalmente, fez incursões na arte pública e monumental e, já no final da vida, na arte digital. Tinha também momentos de incursão na poesia, fruto do convívio com vultos da literatura como Manuel de Castro, J. Pressler, Herberto Helder, David Mourão-Ferreira e Natália Correia, além de ter conhecido Vergílio Ferreira, Sttau Monteiro, Aquilino Ribeiro e Tomaz de Figueiredo.
A Fundação Calouste Gulbenkian teve um papel significativo no seu percurso artístico, pois em 1960, através de uma bolsa, permitiu-lhe viver em PARIS (onde ficou temporariamente alojado com o pintor D’Assumpção) e conhecer o meio artístico parisiense. Gamboa, no entanto, não se fixou nessa cidade. Regressou a Portugal e decidiu tentar a sua sorte em HAMBURGO, para onde se mudou em 1964.
Em Hamburgo encontrou um meio artístico fértil e acolhedor. Teve apoio da comunidade portuguesa e de locais que apreciaram a sua arte. Dessas amizades e apoios nasceram as primeiras exposições em que Gamboa começou a ser notado nos meios artísticos alemães, o que repercutiu também em Portugal. O reconhecimento agradava-lhe, e as relações pessoais e amorosas correram bem. Manuel Gamboa permaneceu em Hamburgo até 1987. Durante esse período, desenvolveu um estilo próprio, sensível e expressivo, que ele próprio apelidou de "gamboísmo": Gamboa orgulhava-se de afirmar que, em vez de seguir tendências, sempre se manteve fiel a si mesmo, ignorando influências externas.
O regresso a Portugal, acompanhado da esposa alemã, levou-o de volta a Lagoa, a VALE D’EL-REI, sua terra natal e querida, onde construiu uma casa e um atelier que lhe serviram de abrigo até ao fim dos seus dias, em 2020. Essas três décadas finais foram igualmente cheias de vida: Gamboa reatou amizades de longa data, fez novos amigos e criou um círculo de admiradores e companheiros com quem mantinha uma vida social ativa. O declínio dos últimos anos, observado com tristeza pelos amigos, não ofuscou o brilhantismo da sua obra, que permanece viva e influente.