Olaria
É antiga a tradição oleira em Lagoa. No último quartel do século XVIII, a regulamentação e taxação da atividade por parte da edilidade lagoense deixava antever a importância que a atividade veio a alcançar na década de 1920, fazendo de Lagoa um grande centro oleiro regional.
Lagoa foi, efetivamente, Terra de oleiros. Sobre as dezenas de olarias e oleiros existentes um pouco por todo o concelho tem vindo a ser feito, no âmbito do projeto Casa da Cidadania, um levantamento sistemático de informação histórica.
Sem oleiro não há olaria, sem barro não há oleiro! A principal razão para a atividade ter prosperado e se ter tornado identitária de Lagoa prende-se com a disponibilidade de filões de barro de boa qualidade. Um dos sítios mais procurados para extração era Barros Brancos, nas imediações da cidade. Ali bem perto, Patrick Swift – artista plástico irlandês que se radicou em Carvoeiro em 1962 –, e o amigo, o conhecido “Artista Total” José Lima de Freitas, criaram a Olaria Algarve (em 1968).
O projeto, inédito e ousado para a época, depressa singrou. O sucesso deveu-se, essencialmente, à introdução de um novo estilo pictórico às amplamente difundidas formas cerâmicas funcionais, preservando a inspiração tradicional, porém incutindo inovações no plano figurativo. A paixão de Swift pelo desenho e pintura e o gosto que desenvolvera pelo artesanato português, bem como o facto de ele e Lima de Freitas serem profundos conhecedores dos traços identitários do Algarve, permitiu-lhes iniciar uma tradição artística que é hoje uma imagem de marca de Lagoa.
Outro rosto incontornável da olaria de Lagoa foi Fernando Rodrigues, o último oleiro tradicional de Lagoa. O Mestre Rodrigues era oriundo de uma família de oleiros. Seguindo as pisadas do avô e do pai, Gregório Rodrigues, notabilizou-se ao dedicar a vida a tentar manter viva, através da pedagogia, a arte oleira tradicional. Já na década de 1960, Fernando Rodrigues acompanhara as sessões de aprendizagem partilhada entre o seu pai, Patrick Swift e Lima de Freitas, as quais duraram vários anos e lhe permitiram descobrir formas cerâmicas ancestrais.
Em 1983 o Mestre assume a coordenação do curso de Olaria da recém-criada Escola de Artesanato de Lagoa, que havia proposto ao presidente da Câmara Municipal, Abel Santos. Já com Jacinto Correia à frente dos destinos do Município, o Mestre veio a expor os seus trabalhos em feiras por todo o país e em Espanha, representando a sua terra. Seria a Fatacil, certame em que participou quase desde a edição inaugural, a dar-lhe o reconhecimento de que anos mais tarde seria alvo. O legado do Mestre foi tal que em 2013 viu o seu nome ser atribuído à renovada Escola de Artes de Lagoa.
À entrada para o último quartel do séc. XX a atividade oleira de Lagoa, que décadas antes fora indústria, foi perdendo a importância no fabrico utilitário de larga escala para adquirir nova vida como arte decorativa. Presentemente, persiste na roda de mestres oleiros como Ricardo Lopes ou no estúdio-oficina Olaria Pequena, estabelecido em Porches em 1983 por Ian Fitzpatrick.